terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um resumo de algo irresumivel ...

Olá a todos, quem vier aqui e ja conhecer a raioverde dos foruns do clix, ja nao vai necessitar de apresentaçoes, mas para quem ainda nao me conhece vou tentar resumir ao maximo nesta 1ª msg a minha longa historia, que poderá servir de exemplo de ESPERANÇA para quem se encontra mergulhada no submundo das doenças do comportamento alimentar:
Durante 22 anos (!!!!) sofri de anorexia bulimica e ha 4 anos e quase 6 meses que estou "curada", embora vos diga, que encaro a cura como um processo sempre em aberto, porque sei que é um processo em constante e permanente construçao. Mas tb posso-vos garantir que esse estado de "alerta" não me impede de modo algum de ser feliz! A felicidade, acreditem, existe e de forma mt mais intensa do que dantes da doença, porque agora quero saborear cada minuto que passa na minha vida, pois aprendi finalmente que só se vive uma vez e que temos que agarrar o momento. Tb nao o vivo como dantes, como se fosse angustiantemente o ultimo dia da minha vida (por isso tb o ultimo que tinha para comer "tudo e mais alguma coisa" nas crises bulimicas), mas sim "o meu dia", aquele que me é dado para viver de forma mais feliz possivel.
Quanto aos anos de doença, por pouco nao sucumbi, porque 22 anos talvez seja superior à idade de muitas de vós, foi assim uma parte demasiado grande e preciosa da minha vida, aprisionada na gaiola de medos da doença, que mirram o corpo e matam a alma. Toda a longa historia escrevi-a durante uns 7 anos nos foruns do clix, que entretanto desactivaram recentemente, mas como fizeram a gentileza de me devolver algumas delas, vou tentar colar aqui.
Mesmo assim, sucintamente, posso-vos dizer que nos anos 80, quando surge a doença, nem rosto nem nome tinha sequer, e tive que silencia-la por completo e seguir em frente com o meu curso superior que passou a ser a unica razao de ser dessa existencia completamente vazia de sentido. Findo o curso, procuro um psiquiatra na minha terra, que me segue durante 10 anos, mas que do entusiasmo inicial (por eu ser o 2º caso que lhe aparecia na sua carreira clinica), rapido passou ao cansaço, sem passar sequer pela fase de investir na doença, pk nunca sequer traçou um plano alimentar, apenas tentava encontrar causas, as quais até hoje até ainda nem sei quais foram ao certo. Limitava-se a prescrever medicaçao, potassio, etc e por fim ja dizia que eu era um caso perdido. Ao mesmo tempo quando proferia frases do genero "não percebo, e até irrita, como és uma pessoa inteligente, como até conceptualizas tao bem a doença e não fazes nada para sair dela"... ainda me deixava mais deprimida, embora na altura nao levasse a mal pk achava que de facto estava a ser bem seguida, desconhendo que existiam psiquiatras especializados nestas doenças. Por isso, e talvez inconscientemente por me convir, fui-me deixando acomodar. Mas hoje vejo que mtas de nós deixamo-nos ficar neste empasse propositadamente, por receio de encontrar um psiquiatra que nos confronte com os nossos medos, mas de frente.
Mas é disto que precisamos e foi isso que aconteceu quando, à beira do abismo, com grandes sequelas psiquicas, mas também fisicas (mtas hemorragias de isofago que me deixavam compleatamente em panico, deprimida, culpabilizada e querendo morrer antes de comer, que de hora de algum prazer, mesmo que falso e efemero, passou a ser hora de suplicio, panico e solidão extrema ..) fui "empurrada" por um gde amigo meu medico para a drª Dulce Bouça. Com ela o meu grito de dor deixou de ser um grito autista, porque nela encontrei uma medica que sabia todos os meandros desta doença, nada a surpreendia e bem que a testei, desconfiada que ja andava com psiquiatras, mas manteve-se e mantem-se firme e coerente, que é do que mais a doença precisa para se lhe fazer frente. Por outro lado, faz-nos logo sentir Pessoas: somos nao "anorecticas", mas "doentes com anorexia", somos vitimas duma doença, nao culpadas da doença, somos pessoas com direito à Felicidade tal como qualquer outra pessoa.. os outros sofrem por nos verem assim? certo, mas nós ainda sofremos mais do que eles... e outra coisa mt importante: devolveu-me a ESPERANÇA perdida ha mt, dizendo que nao existem casos perdidos, sim casos que podem parecer cronicos pelos anos que contam de doença, mas todo o caso cronico é reversivel! se eu QUISESSE saía da doença, bastava querer! claro que nao acreditei e até retorqui ("querer? como se tal fosse possivel, com uma vontade totalmente dominada pela doença, com um corpo que tb era da doença" mas ela tb respondeu prontamente que estava ali era para tratar disso comigo, com a minha colaboração), mas tb o facto é que essa ideia ficou cá dentro e foi germinando sem eu dar por isso.
bem se esta foi a 1ª consulta, imaginem as seguintes.. por isso nunca mais tive aquela vontade de "desistir da vida" sem antes ir à consulta dela.. na verdade nao foi nada fácil reverter um caso perdido, cronico, num caso de sucesso (pelo menos até ao presente), no qual nunca acreditei.
Aconteceu sim sr. ha 4 anos e meio, depois de ter estado cerca de 4 anos em consultas, ter aí conseguido resolver emocionalmente mta coisa, mas a nivel da alimentaçao nao evoluir mt, nao conseguir cumprir o plano alimentar da drª dulce. Por isso, num momento de desespero, em que meu namorado (ainda o actual) me encostava à parede, dizendo que eu tinha que dar mais um passo, porque a doença começava a ser uma "rival mt mais forte que qualquer amante", e se eu nao desse esse passo sentia que mais uma vez ia perder uma pessoa, que me amava e eu amava, para a doença (nao era a 1ª vez, ja me tinha acontecido na adolescencia, perder um amor para a doença) e então, numa atitude desesperada dizendo à drª dulce "srª drª finalmente vou aceder ao intermanento porque ja nao consigo viver nem com "ela" nem sem "ela"... e devo a vida a esse internamento, à equipa maravilhosa do HSP das dca liderada pela drª Dulce, a quem presto nesta minha 1ª mensagem a minha homenagem: drª Dulce, Drª Jennifer Santos; Drª Lara Castro, Drª Filomena, Dra Silvia (nutricionista mt querida para os doentes, que andam semrpe à volta dos nutricionistas), drª Raquel, drª Diana, enfermeiros maravilhosos, que sao o elo de ligaçao permanenete entre nós e a restante equipa, nao nos largam por um momento..auxiliares tb e tinha uma srª mt querida que ja se reformou e que era a chefe de cozinha, como uma mae: D Luisa.
Vou parar por aqui hoje, voltarei quando puder. Desculpem se nao for mt assidua, mas desde que "renasci" para a vida, tento aporveitar ao maximo a vida na sua simplicidade, e sobretudo mantenho mt contacto com a natureza, nao tendo net aos fins de semana, para além de que o trabalho não me deixa mt tempo disponivel para a net.

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